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A força atávica do futebol
A força atávica do futebol

por Flávio Bastos

A disputa e a competitividade são características inerentes ao Homem, pois revelam o atavismo histórico das primeiras conquistas entre grupos humanos, como a disputa pelo domínio do fogo, fator de sobrevivência e status entre os nossos antepassados primatas.

Baseado nesta constatação histórica, lembro-me das "peladas" futebolísticas da minha infância quando um jogo contra adversário de bairro, portanto um "clássico", era considerado por todos uma partida de vida ou morte. E, com este espírito de luta e de entrega, disputávamos não um jogo, mas uma "batalha campal", tal era o nível de envolvimento. Perder, talvez... mas lutando! Simbolizava a cultura futebolística daquela época.

Fora da "arena" do futebol, no entanto, éramos crianças como todas as crianças saudáveis deste planeta, onde encontrávamos nas atividades lúdicas outras formas de interagir com a realidade em nossa volta, convivendo socialmente e aprendendo.

Nestes últimos dias, muito se tem falado sobre a performance da seleção brasileira nesta copa que termina; desde as análises mais apaixonadas até as avaliações mais neutras possíveis. No entanto, uma imagem ficou gravada na memória do brasileiro, o que parece ser um senso comum: a falta de espírito combativo no jogo contra a França.

O que teria ocorrido para que os jogadores em campo, salvo raras excessões, passassem ao público aquela imagem de apatia e de submissão ao adversário?

Poderemos fazer conjecturas ou levantar hipóteses a respeito, porque a verdade ou o "mistério" - se é que ele existe ou existiu - ficou restrito ao conhecimento da delegação brasileira e da CBF. Para o público em geral, no entanto, fica a má impressão e o ponto de interrogação.

E por falar em "impressão", que pode significar simplesmente uma opinião pessoal, gostaria de "meter o meu bico", mas sem pré-julgar ou condenar ninguém pessoalmente, até porque esta tarefa é uma das mais fáceis e o que mais acontece numa situação dessas.

A minha impressão, seguida de análise do ocorrido com a nossa seleção, reporta-me às minhas experiências do passado enquanto "boleiro", ou seja, jogador de futebol não profissional. Se associarmos esta visão à cultura futebolística dos gaúchos, verificaremos que, pelo fato de possuirmos um estilo de jogo parecido com as escolas uruguaia e argentina, transmitido pela afinidade histórico-cultural através da vizinhança com estes países, observaremos que faltou garra (espírito de luta) aos nossos jogadores.

Vimos uma França concentrada como se estivesse preparada para uma guerra sob a liderança de Napoleão Bonaparte e, como conseqüência desta postura, um time estóico e unido em campo de "batalha". Por outro lado, vimos um grupo de jogadores pré-aquecendo sob o ritmo de pagode - nada contra, mas tudo tem o seu momento - onde mais parecia que iriam desfilar numa Marquês de Sapucaí do que disputar uma partida decisiva de mundial.

No túnel de acesso ao campo de jogo, perfilados ao lado dos franceses, os jogadores brasileiros, soltos e descontraídos, eram só sorrisos, enquanto os adversários, concentrados no jogo, mantinham-se sérios como soldados prontos para entrarem no cenário de batalha.

Bairrismos à parte, nós, os gaúchos brasileiros, pelo fato de termos um estilo futebolístico combativo à la Felipão, não entendemos como uma equipe de futebol possa ter sido tão medíocre no sentido da falta de combatividade e espírito de luta em campo. Isto, em suma, é o que se comentou amplamente por aqui após a decepcionante apresentação da seleção.

No fundo, sabemos que faltou aquilo que tínhamos quando jogávamos futebol na infância e que qualquer jogador amador pratica. Faltou à seleção, aquilo que sabemos que o Felipão sabe e que passa longe do anestesiado espírito dos garotos-propaganda da bola: "alma y corazón", ou seja, a força atávica do futebol guerreiro.

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